quarta-feira, 15 de junho de 2016

Ainda me lembro

Ainda me lembro dos risos na neve. E da correria quando a neve perdeu a graça e se transformou em chuva gelada e vento forte. Me lembro da sensação de completude ao te ver sorrindo e da certeza de que nada, nada mesmo estava faltando. Me lembro do aconchego da nossa cama nas manhãs de domingo e da vontade de ficar ali para sempre. Do riso frouxo e fácil, das crises de riso sem razão de ser. Das inúmeras vezes em que perdi o fôlego só de te olhar (muitas das vezes, enquanto você dormia, linda e serena). Me lembro da saudade doída por viver tantos meses longe de você e do alívio que era pensar que esse tempo seria recompensado, pois, uma vez de volta, moraria para sempre no calor dos seus braços. Me lembro do sorriso tímido do primeiro encontro. Da surpresa do segundo. Da certeza do terceiro. Me lembro da roda gigante de Paris e de nos embriagarmos de amor e de vinho naquele lugar que só passou a ter cara de lar depois que você chegou. E da timidez, aquela timidez do amor, que nos deixava sem palavras, sem ar, rodando para lá e para cá no aeroporto, sem saber para onde deveríamos ir já que, uma vez juntas, nem precisávamos mesmo ir a lugar nenhum. 
Pode ser que eu encontre alguém que fale mais do que você e que ocupe os longos silêncios com muitas conversas que, acredito eu, soarão até meio irritantes. Pode ser que encontremos alguém que nos proporcione uma vida serena, com quem não nos desentendamos nunca, que nos compreenda sem muita dificuldade. Pode ser que você encontre alguém que te leve café da manhã na cama e que compartilhe da sensação de que essa é a melhor refeição do dia. Pode ser que eu cruze com alguém que me faça voltar a tecer versos de amor, a sonhar sonhos que pensei terem morrido. Alguém que te ache maravilhosamente linda (o que não é difícil, já que, para tanto, basta ter dois olhos e um coração). Alguém que elogie a pinta que você tem logo acima do lábio e que dança graciosamente quando você ri. E que não pergunte se você não vai terminar de beber o seu café preto, sabendo que você enche a xícara, mas sempre deixa de beber dois dedos. Talvez, você encontre uma pessoa mais cuidadosa e atenta a tudo aquilo que você julga importante. Ou um alguém que faça o seu coração vibrar coisas bonitas. Não te desejo menos do que isso, meu amor. 
Hoje, quase pude sentir você aqui, o corpo junto ao meu, nossas mãos entrelaçadas, como quem sela uma promessa silenciosa de um amor que dura muito além do tempo que a eternidade pode conceber. Fecho os olhos com força, como quem faz uma oração.