terça-feira, 28 de agosto de 2012

O menino e o pote palavras.


Era um vez um menino solitário com um pote de palavras mudas. 
E com um punhado de lindezas guardadas. As palavras que ele colecionava eram igualmente solitárias. Eram doces e precisas e, naquele tempo, ele não as desperdiçava. 

Havia uma menina que colecionava palavras. Palavras que gritavam numa lucidez inaudível. Palavras bailarinas. Ela as guardava, com carinho, num baú bem bonito, embaixo da cama. 

Numa tarde de primavera, deu-se o encontro dos dois. Mais que uma fusão de palavras, aquele encontro era uma troca entre duas almas. Um encontro de sonetos, risos e rimas.

Juntos, os dois caçavam palavras-borboletas num bosque de sonhos. E plantavam um jardim de poesia e sol. E se apossavam, numa comunhão bonita, de palavras únicas, raras. Palavras de amor. De um amor que de simples nada tinha, mas que era bonito e especial, justamente, na sua complexidade. 

Havia, ainda, uma troca pelo olhar. A essa altura eles já sabiam (ou deveriam saber) que sem os olhos as palavras nada são. São frágeis e inúteis, como borboletas aprisionadas nos casulos, indefesas, esperando o tempo certo de voar.

A menina acordou daquele sonho bom. Ela abraçou o travesseiro e fechou os olhos, desesperadamente, na esperança de voltar ao sonho no ponto onde ele havia parado.

Era uma vez uma menina com um pote de palavras. Palavras mudas. 


segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Para o moço dos olhos gentis

Nunca saberia me despedir daquele moço dos olhos gentis. Porque ele tinha cheiro de alecrim e gosto de bolo de chocolate que acabou de sair do forno - daqueles de avó. Ele fazia o meu coração sonhar poesia e me contava histórias bonitas que enchiam os meus olhos de esperança. Ele fazia brotar em mim uma alegria sincera e fluida que, até então, eu parecia desconhecer e me arrancava sorrisos bonitos. Ah, sim... E suspiros. O nosso mundo era só nosso e ele o enfeitava com a gentileza que lhe era peculiar, de um jeito doce feito brigadeiro caseiro. Era isso. Ele tinha jeito de casa. De lar. De colo. E quando ele me apertava junto ao peito, eu juro, todos os problemas deixavam de existir ali.  Ele tinha, por vezes, um ar rude que vinha como armadura e, talvez, ele nem saiba, mas eu sei que isso não fazia, verdadeiramente, parte dele. É que quando ele falava com frieza, os olhos, sempre tão bondosos, não acompanhavam o tom rude da fala. A gentileza morava nele. E ele morava em mim. Ele me fazia sonhar canções que nunca ouvi e imaginar lugares encantados onde nunca estive. A sua voz embalava o meu coração num ritmo suave e seguro. Posso até jurar que ele conversava, diretamente, com o meu coração, sem a minha intervenção, só os dois, num tête-à-tête. Não me lembro, honestamente, de ter dado permissão a esse moço para entrar na minha vida, mas, quando dei por mim, ele já estava lá. Inquilino e, logo, dono do meu coração.
Ele era inexplicavelmente doce e lindo. Ele era o meu aconchego e a minha casa. Como eu poderia, então, me despedir desse amor? Se era ele quase como coisa-feita, destino, poesia, encontro? Se era dessas coisas bem das bonitas que a gente só lê em livros de histórias encantadas? Acho que, talvez, esse moço não saiba o quanto me dói falar em despedidas. Acho, também, que, talvez, ele não saiba que o nosso amor é para sempre. E que não há nada nem ninguém que nos roube isso. É amor e veio para ficar.