quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Sobre despedidas

No final, fica uma lição. Sempre fica. Das promessas pueris, fica a leveza, embora a parte do "para sempre" fique para trás. Das canções, fica a sensação de poesia, como algo que não foi dito, mas que mora no peito. Fica também um nó na garganta que não se sabe ao certo de onde vem e nem para onde vai. Ah, e o barulho de acordes mudos. Das risadas, fica o silêncio. E todo o estardalhaço que o silêncio traz. Fica uma dor que, estranhamente, guarda uma certa ternura. Ficam as lembranças, embora cronologicamente perdidas no tempo do coração. No final, quem o coração ama, sempre fica. Embora o "sempre" fique para trás.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Cotidiano

Te namorar. Me enroscar em você. Ir ao cinema. Ficar à toa vendo o tempo passar, sem aquela pressa que nos foi imposta desde o início. Sem aquele medo de chegar a hora de partir. Nunca mais ter que partir. Nunca mais partir. Não ter que decidir o que fazer. Não fazer nada. Te amar sem pressa no domingo de manhã. Tomar café. Dormir de novo. Almoçar fora. Cozinhar em casa. Te amar com pressa antes do trabalho. Chegar atrasada no trabalho com um sorriso largo no rosto. Te comunicar - apenas com os olhos - que deu a hora de ir embora da festa, pois estou com saudades e preciso do seu corpo junto ao meu. Te fazer rir até você se contorcer. Gargalhar com você até a barriga doer. Te abraçar apertado quando você estiver triste. Te abraçar para sempre quando você estiver feliz. Ficar triste com você. Ficar feliz com você. Te dar as bordas da minha pizza. Te buscar em casa. Apoiar a mão nas suas pernas enquanto dirijo. Fazer carinho em você enquanto você dirige. Te amar até a exaustão. Pedir para você cozinhar para mim de madrugada, após uma noite de bebedeira. Sentar no chão da cozinha. Contar as horas para te ver. Fugir do trabalho para almoçar com você. Te admirar enquanto você ainda dorme. Te acordar para dizer que te amo. Conversar com os seus olhos. Viajar. Para perto. Para longe. Para aquele lugar misterioso e secreto que você vai quando está triste. Ser seu colo. Deitar no seu colo. Ficar em silêncio ao seu lado. Falar até perder a voz. Cantar para você. Cantar você. Te encantar. Contar histórias da minha infância (as poucas que lembro, pois, como você sabe, minha memória remota não é lá grandes coisas). Te emocionar. Te surpreender. Te dar flores, pois, embora a morte delas seja inevitável, elas podem fazer primavera no seu coração por alguns dias. Ser a sua primavera. Te esquentar no inverno. Tomar banho de mar no verão. E, no outono… Bom, o outono é a estação do meu aniversário. Comemorar todos eles com você.

terça-feira, 1 de abril de 2014

Feliz aniversário

A solidão me veio densa e amarga corroendo todo resquício de felicidade que havia mim. Foi em Paris que aprendi algumas das mais duras lições que nenhuma outra experiência jamais me proporcionará. Foi em Paris que aprendi a escutar “não”. E ouvi todos os nãos que uma pessoa pode escutar ao longo de uma vida inteira. Os nãos me eram enfiados garganta adentro e me apertavam a boca como os taninos dos vinhos, me embriagando de lucidez. A paisagem bonita de nada servia senão para borrar os sentimentos de tons de melancolia numa tentativa tola de mascarar uma dor que não carrega beleza nenhuma. A realidade é um café amargo. Apagaram as luzes na cidade delas. Não há choro, nem vela. “Feliz aniversário”, murmurei. É hora de dormir. 

Paris, 2 de abril de 2014. 

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Ah, o verão...

Quando eu ainda estava planejando a minha ida para Paris, uma amiga, demonstrando muita empolgação com os meus planos, me disse algo que não consegui esquecer: que eu não poderia, naquele momento, mensurar o quão especial seria essa minha experiência, pois eu moraria em Paris por um ano inteiro e, portanto, teria a oportunidade de viver todas as estações. O interessante é que ela não estava baseando esse novo ciclo da minha vida apenas na fantasia maravilhosamente clichê de viver 'la vie en rose' em uma das cidades mais charmosas do mundo, mas nas estações. Sim, nas estações. Ela me explicou que nós, brasileiros, não damos valor para isso e sequer notamos a diferença entre cada uma das estações, uma vez que no Brasil elas não possuem características marcantes, próprias. E afirmou que eu me lembraria de cada uma das experiências que vivi na França, de acordo com cada estação. Nunca mais esquecerei essa observação tão doce e gentil, pois, alma sensível que sou, me sinto tocada não somente pelas peculiaridades das estações, mas também pela delicadeza de alguém cuja atenção se volta para algo tão simples e lindo.

Quando pisei os pés em Paris, já na segunda quinzena de Setembro, o verão estava se despedindo e, em poucos dias, o outono se apresentou, trazendo temperaturas mais baixas e trocando a cor da paisagem. Num piscar de olhos, o outono também encerrava o seu ciclo, carregando com ele, dia após dia, as folhas secas e dando espaço ao inverno que, acreditem, é ainda mais rigoroso para o coração do que para o próprio corpo. 

Não fiz questão de estar em Paris para o début do inverno, pois, por mais cativante que me pareça a ideia de curtir todas as estações, nada pode ser melhor do que passar as festas de final de ano ao lado daqueles que amamos. Assim, me mandei para o Brasil, onde cheguei um dia antes do verão começar. Troquei a chuva e a cor cinza-chumbo da cidade das luzes que, por Deus, me parece, quase sempre, uma pintura daquelas bem melancólicas e bonitas por um calor escaldante e céu azul, azulão. Deixei lá o silêncio sepulcral, o (mau) humor irônico dos franceses e o desinteresse pela vida do outro para estar rodeada de gente falante, feliz e até - por que não? – intrometida. Troquei as temperaturas baixas, quase negativas, por calor tanto na pele, quanto no coração. Esperta que sou, aprendo rápido as coisas e já sei que, sem qualquer dúvida, esse é o melhor verão da minha vida. E volto para viver o inverno de Paris com o bronzeado em dia, um sorriso no rosto e um sol estampado no peito.