quarta-feira, 23 de abril de 2014

Cotidiano

Te namorar. Me enroscar em você. Ir ao cinema. Ficar à toa vendo o tempo passar, sem aquela pressa que nos foi imposta desde o início. Sem aquele medo de chegar a hora de partir. Nunca mais ter que partir. Nunca mais partir. Não ter que decidir o que fazer. Não fazer nada. Te amar sem pressa no domingo de manhã. Tomar café. Dormir de novo. Almoçar fora. Cozinhar em casa. Te amar com pressa antes do trabalho. Chegar atrasada no trabalho com um sorriso largo no rosto. Te comunicar - apenas com os olhos - que deu a hora de ir embora da festa, pois estou com saudades e preciso do seu corpo junto ao meu. Te fazer rir até você se contorcer. Gargalhar com você até a barriga doer. Te abraçar apertado quando você estiver triste. Te abraçar para sempre quando você estiver feliz. Ficar triste com você. Ficar feliz com você. Te dar as bordas da minha pizza. Te buscar em casa. Apoiar a mão nas suas pernas enquanto dirijo. Fazer carinho em você enquanto você dirige. Te amar até a exaustão. Pedir para você cozinhar para mim de madrugada, após uma noite de bebedeira. Sentar no chão da cozinha. Contar as horas para te ver. Fugir do trabalho para almoçar com você. Te admirar enquanto você ainda dorme. Te acordar para dizer que te amo. Conversar com os seus olhos. Viajar. Para perto. Para longe. Para aquele lugar misterioso e secreto que você vai quando está triste. Ser seu colo. Deitar no seu colo. Ficar em silêncio ao seu lado. Falar até perder a voz. Cantar para você. Cantar você. Te encantar. Contar histórias da minha infância (as poucas que lembro, pois, como você sabe, minha memória remota não é lá grandes coisas). Te emocionar. Te surpreender. Te dar flores, pois, embora a morte delas seja inevitável, elas podem fazer primavera no seu coração por alguns dias. Ser a sua primavera. Te esquentar no inverno. Tomar banho de mar no verão. E, no outono… Bom, o outono é a estação do meu aniversário. Comemorar todos eles com você.

terça-feira, 1 de abril de 2014

Feliz aniversário

A solidão me veio densa e amarga corroendo todo resquício de felicidade que havia mim. Foi em Paris que aprendi algumas das mais duras lições que nenhuma outra experiência jamais me proporcionará. Foi em Paris que aprendi a escutar “não”. E ouvi todos os nãos que uma pessoa pode escutar ao longo de uma vida inteira. Os nãos me eram enfiados garganta adentro e me apertavam a boca como os taninos dos vinhos, me embriagando de lucidez. A paisagem bonita de nada servia senão para borrar os sentimentos de tons de melancolia numa tentativa tola de mascarar uma dor que não carrega beleza nenhuma. A realidade é um café amargo. Apagaram as luzes na cidade delas. Não há choro, nem vela. “Feliz aniversário”, murmurei. É hora de dormir. 

Paris, 2 de abril de 2014.