quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Paris, 21 de outubro de 2013.



Meu amor,

Você está em tudo que vejo. Na garoa fina e persistente que me despenteia os cabelos e me molha o corpo. Nos suspiros dos amantes que insistem em cruzar o meu caminho durante todo o tempo. Nos cadeados presos nas pontes, indicando que ali foram seladas juras de amor eterno. No desenho que a borra de café forma no fundo da xícara. E nas nuvens que, mais do que nunca, tenho certeza, são feitas de algodão. Nas flores que brotam no concreto, no decorrer do outono, violando, docemente, as regras das estações. Nos planos ternos que teço de olhos abertos e, também, nos sonhos que me povoam os pensamentos quando adormeço. Você me amanhece e me inaugura todos os dias. Me transborda de amores e me esvazia as incertezas.

Os ponteiros dos relógios, por Deus, me parecem imóveis, quando você não está. Mas o tempo não importa, se esse amor é atemporal. Se não me sei passado, presente ou futuro sem o seu corpo junto ao meu.

Apenas uma vida já me parece insuficiente, por demais, para amar você. Chove lá fora. Faz sol dentro de mim.

Te espero.

Sua,

Gabriela.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Amor, amarelo amor.

Há algum tempo, dei para me sentir ausente de mim mesma.
E tentava, dia após dia, (re)escrever o meu caminho de volta.
Procurava migalhas de poesia no chão, numa tentativa vã de refazer o percurso,
mas não havia nada, não havia qualquer rastro de mim.

Eis que você me aparece, mais uma vez, fazendo brotar primavera por dentro. 
Fazendo cosquinhas com a sua garoa gostosa.
Brincando de brisa no balanço do meu coração.
Inaugurando sorriso floridos.
E fazendo estreia em mim. 

Amor, amarelo amor.

domingo, 6 de janeiro de 2013

Espera


Haveria de existir um amor cujo peso da inconsistência das falas rudes, em momentos de dor, não alterasse a poesia do afeto. Um amor cuja tristeza - porque, sim, há tristeza também no amor - não afetasse o lindo campo das memórias de alegria, colhidas- uma a uma - numa lida a dois, para dois.

Sim, haveria de existir um amor que, nos momentos difíceis, não contaminasse de mágoa as ternurinhas bobas e lindas que foram construídas delicadamente no decorrer dos dias. Um amor que não conhecesse o orgulho, senão da vaidade de estampar a raridade daquele sentimento bonito e simples. 

Haveria de existir um amor fluido, que de tão predestinado ocorresse de maneira fácil, como se o seu reconhecimento dependesse apenas do (re)encontro daquelas duas almas e se desse de imediato, no momento em que os olhos dos dois se cruzassem. 
Um daqueles amores cujas promessas fossem mantidas, cuja lembrança nos parecesse, ainda que anos depois, serenamente preservada. Mesmo diante do tempo, da idade, da morte. 

Haveria de existir esse amor-sorte. Esse amor terno. Eterno. Amor com cara de encontro marcado.

Um amor cuja precariedade trouxesse à tona somente a paciência e o cuidado. Cuja lealdade fosse antes uma inerência e não uma condição. Um amor daqueles justos. Amor que não agride, que não faz tempestade, que não dá susto. Um amor aconchego, que morasse na delicadeza. Um amor que habitasse no sim. Sim, haveria de existir.