terça-feira, 25 de junho de 2019

Lugar Incomum

Nas ladeiras das curvas íngremes do seu corpo,
me perco.
Nos rastros de suor que encharcam os poros,
me acho.

Na sintonia fina dos pensamentos,
segredos.
No amor que me escorre as pernas,
riacho. 

Nas paisagens que visito em seus olhos,
loucura.
No repousar do seu peito,
cura.

quarta-feira, 10 de abril de 2019

Kassis

Meu amor, 

Seu amor me toca em lugares profundos e nunca antes visitados. É como um acesso irrevogável a outro nível de consciência. É o meu bilhete só de ida para uma experiência que as palavras não são capazes de alcançar. Te tocar é uma experiência sensorial das mais raras e a fusão dos nossos corpos se dá num encaixe perfeito, como se o encontro predestinado fosse. E a minha cabeça gira e gira e gira com cada movimento seu. Com o desenho perfeito que se forma nas suas costas que dançam com graça e ritmo, quando você passa por mim. Com a ternura que se escancara no meu peito quando você fala de amor. Amanhecer ao seu lado enche o meu coração de tons raros, numa aquarela de afago e cores vibrantes. Você me é invasão e aconchego, como o ar que ocupa tudo sem pedir licença, com suavidade e leveza. A saudade vem de antes. E me rasga a pele para depois me confortar com a certeza de que o encontro já se deu. Estar com você é respirar vida, é estar desperta. Te amar me encharca a alma e os poros. É enchente e calmaria. E as minhas pernas, que não mais me respondem, já não conhecem outro caminho senão aquele que leva até você.

Eu te amo. 

Sua...

Gabriela. 

Belo Horizonte, 10 de abril de 2019.


quarta-feira, 15 de junho de 2016

Ainda me lembro

Ainda me lembro dos risos na neve. E da correria quando a neve perdeu a graça e se transformou em chuva gelada e vento forte. Me lembro da sensação de completude ao te ver sorrindo e da certeza de que nada, nada mesmo estava faltando. Me lembro do aconchego da nossa cama nas manhãs de domingo e da vontade de ficar ali para sempre. Do riso frouxo e fácil, das crises de riso sem razão de ser. Das inúmeras vezes em que perdi o fôlego só de te olhar (muitas das vezes, enquanto você dormia, linda e serena). Me lembro da saudade doída por viver tantos meses longe de você e do alívio que era pensar que esse tempo seria recompensado, pois, uma vez de volta, moraria para sempre no calor dos seus braços. Me lembro do sorriso tímido do primeiro encontro. Da surpresa do segundo. Da certeza do terceiro. Me lembro da roda gigante de Paris e de nos embriagarmos de amor e de vinho naquele lugar que só passou a ter cara de lar depois que você chegou. E da timidez, aquela timidez do amor, que nos deixava sem palavras, sem ar, rodando para lá e para cá no aeroporto, sem saber para onde deveríamos ir já que, uma vez juntas, nem precisávamos mesmo ir a lugar nenhum. 
Pode ser que eu encontre alguém que fale mais do que você e que ocupe os longos silêncios com muitas conversas que, acredito eu, soarão até meio irritantes. Pode ser que encontremos alguém que nos proporcione uma vida serena, com quem não nos desentendamos nunca, que nos compreenda sem muita dificuldade. Pode ser que você encontre alguém que te leve café da manhã na cama e que compartilhe da sensação de que essa é a melhor refeição do dia. Pode ser que eu cruze com alguém que me faça voltar a tecer versos de amor, a sonhar sonhos que pensei terem morrido. Alguém que te ache maravilhosamente linda (o que não é difícil, já que, para tanto, basta ter dois olhos e um coração). Alguém que elogie a pinta que você tem logo acima do lábio e que dança graciosamente quando você ri. E que não pergunte se você não vai terminar de beber o seu café preto, sabendo que você enche a xícara, mas sempre deixa de beber dois dedos. Talvez, você encontre uma pessoa mais cuidadosa e atenta a tudo aquilo que você julga importante. Ou um alguém que faça o seu coração vibrar coisas bonitas. Não te desejo menos do que isso, meu amor. 
Hoje, quase pude sentir você aqui, o corpo junto ao meu, nossas mãos entrelaçadas, como quem sela uma promessa silenciosa de um amor que dura muito além do tempo que a eternidade pode conceber. Fecho os olhos com força, como quem faz uma oração.

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Mais um dia chega ao fim. Outro dia comum, que não fez história, mas apenas foi riscado do calendário. Na boca, um gosto amargo. Álcool e uma boa dose de desilusão. Esvazio os meus pensamentos e me restam, agora, uns poucos devaneios desconexos. Me dá uma vontade louca de te telefonar. Sou imediatamente interrompida pela minha razão gritando uma canção tão solitária que me rasga todos os versos e que, num rompante de lucidez, rasga também o verbo: “quem ama, fica”. Minha mente agitada consente. Afinal de contas, ela não ficou. Nessa desordem emocional me esbarro em memórias muito doces. Em vão, tento transformá-las em ódio; transformar, quem sabe, esse amor, que me é raro, em mais uma história ordinária. Sou tomada, então, por uma lucidez gentil que me traz de volta para esse caos no qual só há amor. E dor. E uma saudade que supera a lógica do rompimento. Consinto. E sinto em todos os meus poros e veias esse amor que me rasga a pele em poesia e solidão. Grito em silêncio e as palavras que não digo me ferem a garganta, são prosas mudas. Me calo. Abro os olhos. Mais um dia amanhece. Chega de partidas, de me partir inteira. Chegou a hora de ficar. Dessa vez, por mim.

sábado, 1 de agosto de 2015

Sem ela

Sem ela, não me sou.
Senão alguém sem direção
Senão um desencaixe
Meio refrão
Um contratempo
Uma bússola na contramão.
Sem ela, nada soa são.
Tudo parece não.
Tudo é vago.
Tudo é em vão.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Enjoy the silence

Minhas palavras se antecipam em descrever - em quaisquer das minhas falas desajeitadas - toda a nudez escandalosa com que carrego as minhas verdades, toda a paixão sincera e absurdamente imensa por tudo aquilo que acredito e levo junto do peito. E saem indiscretas, me delatando por aí. Rasgadas, ferinas, feridas, apaixonantes, ingênuas, intensas e insensatas, rompendo, de maneira quase infantil, com o silêncio que a vida me impõe. Para compreendê-las, verdadeiramente, basta ouvir o silêncio por trás delas. As minhas palavras desenfreadas mais dizem sobre quem eu sou do que o que deveras dizem. Seja no exagero das palavras de ódio e fúria, demasiadamente teatrais, devo dizer; seja na dor das palavras que falam sobre a solidão crua e profunda que me adormece os sonhos. Minhas palavras, por fim, pouco dizem, senão sobre a minha verdade escancarada; senão sobre esse exagero que carrego em mim; sobre as minhas paixões, os meus desassossegos e tudo aquilo que acredito. E sobre esse amor que me é único e valioso e que, hoje, me faz silêncio. Ei, você também consegue escutar o que esse silêncio diz?

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Sobre despedidas

No final, fica uma lição. Sempre fica. Das promessas pueris, fica a leveza, embora a parte do "para sempre" fique para trás. Das canções, fica a sensação de poesia, como algo que não foi dito, mas que mora no peito. Fica também um nó na garganta que não se sabe ao certo de onde vem e nem para onde vai. Ah, e o barulho de acordes mudos. Das risadas, fica o silêncio. E todo o estardalhaço que o silêncio traz. Fica uma dor que, estranhamente, guarda uma certa ternura. Ficam as lembranças, embora cronologicamente perdidas no tempo do coração. No final, quem o coração ama, sempre fica. Embora o "sempre" fique para trás.